12 de abr. de 2015

BUNKER

tem uma boneca inflável convidando ao boquete
ornamentando o palco vazio

e o banco no fundo do bar que sempre me aguarda
como um esconderijo antibombas

eu e a garrafa de long neck nos fazemos companhia

o show não vai começar
o show já vai começar
não vai

aquela meia dúzia parada lá na frente fica olhando para o palco desabitado
- será que já enxergam algo?

tem essas duas meninas que ficam ali se revezando no balcão
fazendo pose para o celular
- já podem postar e seguir pra outro lugar!

tem esse PM chamado Rocha que faz a ronda noturna
e quer alguma coisa do dono do bar – o que será?
mas isso é só mais tarde.

agora,
sou eu fugindo
com os meus cigarros pela escada de incêndio
e com os meus incêndios pelo gargalo.

tem os que vão de dose dupla de caipirinha ou cuba
e permanecem bem dosados.

tem esses rocks que não me saem mais da cabeça,
e eu dançando enlouquecidamente entre as estátuas de pedra.

depois, [...]
tem o silêncio e o que eu não digo.

eu tenho sempre a sensação do perigo.
meu bunker no fim do salão,
as escadas de incêndio,
os incêndios,
uma marreta na mão destruindo as estátuas,
aquele riso no canto da boca de só quem entendeu a piada
desprezando a gargalhada de quem nunca entende nada.

por fim,
planejo ataques à geladeira do bar e à sua boca,
mas fico só com a saideira.

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